M O T E
Naquele Pic-Nic de burguesas
Houve uma coisa simplesmente bela
É que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
(Cesário Verde)
T R A D I Ç Ã O
Num jardim dum palacete
um convívio cumpria a tradição.
Imperava o perfume dos frutos suculentos;
ananazes, melancias....
e os odores que as tendinhas exalavam
convidavam à prova d'iguarias.
Ao calor dos beijos e abraços
juntavam-se francas gargalhadas.
As gargantas mitigavam as securas
e os espíritos esqueciam as agruras,
numa sangria adocicada.
Fora de portas, se os havia, ficaram os ardis.
Era perfeito o colorido da paisagem
em que se ostentavam os rubis,
os brilhantes e turquesas
naquele Pic-Nic de burguesas.
No verde esperança do relvado
o amor dava sinal.
Dois jovens enamorados
comprometiam-se para a vida
ao som da marcha nupcial.
Ela amorosamente embevecida.
Ele, qual cavaleiro em busca do graal,
perdeu a altivez por um momento.
Curvou e de joelho em terra
ali a pediu em casamento.
Um sim determinado,
um beijo apaixonado
e um anel selaram o noivado.
Entre a galhofada tagarela
houve uma coisa simplesmente bela.
A elegia do amor
É a melhor das sobremesas,
um sublime mundo maior;
É que, sem ter história nem grandezas!
Impulsos do coração sempre enobrece,
alavanca que nos move por inteiro.
Não podemos prever o que ele tece
quando surge um sentimento verdadeiro.
Transpondo o momento para a tela
em todo o caso dava uma aguarela.
Oeiras, 2010/0316
Virgínia Branco